Tarefa: Traçar um paralelo entre os conceitos de Pobreza e Medo na idade média e na atualidade.
Buscamos então pesquisar os conceitos Pobreza e Medo em cada época, separadamente, para depois concluir.
POBREZA NA IDADE MÉDIA
Sabemos que o conceito de “pobreza” passou por diferentes momentos durante a idade média.
Primeiramente, como condição necessária à prática da caridade cristã.
Seguindo as palavras de São Paulo, “Cristo sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de que fôsseis ricos pela sua pobreza” (Cor, 8-9), transforma a humildade espiritual em um impulso em direção a Deus, enquanto procuravam aliviar a humilhação material e social dos pobres.
Em segundo lugar, como algo que causava repulsa e deveria ser escondido.
Os pobres não resistiram, como categoria social aos valores do dinheiro e do glamour que a nascente burguesia venerava, e passaram a ser vistos como excluídos da sociedade. A pobreza torna-se uma indignidade, um fracasso, aos olhos de quem ocupa esta classe e nos sermões dominicais de finais do século XIII, a avareza deixa de ser apontada como um pecado grave.
O reflexo dessa nova visão é a multiplicação das Instituições Assistenciais e a difusão da prática da caridade coletiva. A esmola não é mais dada diretamente ao pobre, mas à Igreja, e não mais na forma de convívio, mas em dinheiro. Ao mesmo tempo, assiste-se à difusão dos Leprosários e dos Hospitais urbanos que, seguindo seu propósito procuravam afastar do convívio comum as marcas da indignidade e do fracasso, expostas pelos pobres e pelos doentes.
Deve-se esconder a pobreza, ela é feia e, com sua presença, envergonha a sociedade. Mas os pobres multiplicam-se e vão clamar sua voz irada nas revoltas dos séculos XIV e XV.
Em terceiro, quando a justa ira dos pobres explode, finalizando com sua “exclusão” do paraíso. A característica social da época foi a eclosão de numerosas revoltas populares.
A origem dessas revoltas está no desconforto que a pobreza causa, na injustiça de sua imposição e na vergonha que ela ocasiona. A pobreza na vida terrena é identificada como verdadeiro pecado, transformando os pobres, em exemplos vivos de uma dupla exclusão: no presente, pelas carências que suportam, e, no futuro, pela negação à salvação eterna.
É importante notar que ocorreu uma notável inversão ideológica. Antes, as agonias que a pobreza destinava eram compensadas pela esperança de um futuro paradisíaco; agora, a pobreza é requisito fundamental para a condenação eterna.
POBREZA NA ATUALIDADE
Na atualidade o conceito de pobreza também passou por uma evolução e três concepções foram desenvolvidas no decorrer do século XX: sobrevivência, necessidades básicas e privação relativa.
O enfoque de sobrevivência, o mais restritivo, predominou nos séculos XIX e XX, até a década de 50. Teve origem no trabalho de nutricionistas inglesas apontando que a renda dos mais pobres não era suficiente para a manutenção do rendimento físico do indivíduo. Essa concepção foi adotada na Inglaterra e exerceu grande influência em toda a Europa, sendo usada mais tarde pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD). A maior crítica que esse enfoque sofreu foi que, com ele, justificavam-se baixos índices de assistência: bastava manter os indivíduos no nível de sobrevivência.
Num segundo momento, a partir de 1970, a pobreza tinha a conotação de necessidades básicas, colocando novas exigências, como serviços de água potável, saneamento básico, saúde, educação e cultura. Configurou-se o enfoque das necessidades básicas, apontando certas exigências de consumo básico de uma família. Essa concepção passou a ser adotada pelos órgãos internacionais, sobretudo por aqueles que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), representando uma ampliação da concepção de sobrevivência física pura e simples.
A partir de 1980, a pobreza passou a ser entendida como privação relativa, dando ao conceito um enfoque mais abrangente e rigoroso, buscando uma formulação científica e comparações entre estudos internacionais, enfatizando o aspecto social. Dessa forma, sair da linha de pobreza significava obter: um regime alimentar adequado, um certo nível de conforto, o desenvolvimento de papéis e de comportamentos socialmente adequados. Ao mesmo tempo, porém, contrapondo-se a este conceito, floresceu a tese, muito apreciada pelas instituições multilaterais de crédito sediadas na capital norte-americana, de que, com o bom funcionamento dos mercados, as economias se tornariam prósperas, e a riqueza gerada acabaria por beneficiar os pobres. Essa tese ficou conhecida como “Consenso de Washington”.
Essa abordagem, apesar de ser mais sofisticada e abrangente, apresenta mais dificuldades de utilização, dada a necessidade de definir a extensão e a severidade da não participação das pessoas que sofrem privação de recursos.
MEDO NA IDADE MÉDIA
Percebe-se na Europa nos anos 1000 a expressão, de uma solidariedade ativa, firme, enfrentando tanto a miséria quanto a conseqüência das calamidades; solidariedade que não se restringia aos vivos e sim aos defuntos; na forma de oração, confissão penitência, pois as boas obras permitiam atenuar o temor ao inferno e prestar auxílio às almas do outro mundo. A matança de bruxas e judeus, a guerra dos cem anos e a peste negra afirma a idéia, pois o continente foi quase despovoado e tudo isto semeava a insegurança da sociedade que gemia.
A cristandade, assim criava um imaginário em volta da morte. O medo da morte é algo obcecador, e o homem com a sua convivência, passa a cultuar, promovendo ensaios rompendo com o “silêncio do medo”, uma relação direta da morte com grandes temores que ameaçavam o desaparecimento da raça humana.
Satanás e os demônios eram assustadores no imaginário medieval.
A partir do século XIV, acumulavam grandes catástrofes, desencadeando na Europa uma enorme angústia.
Os medos, portanto, eram concebidos como exteriores ao homem e desempenhavam importante papel no seu destino, em um sentido individual e coletivo. Isso nos leva a pensar que a visão do medo como um deus parte de uma pressuposição de sujeito da época, como um sujeito “não-interiorizado”.
Nesse sentido, o medo não seria uma expressão de algo interno, da sua singularidade individualizada, mas a expressão de algo externo que se manifestava no sujeito. O medo se configurava, então, como experiência subjetiva, como paixão que atravessava o sujeito.
MEDO NA ATUALIDADE
É importante ressaltar que o medo passou por um processo de internalização com o passar dos tempos.
Iniciou-se nos primórdios do cristianismo. Esse processo, porém ocorre de maneira lenta e complexa, pois, o homem medieval não tinha controle sobre as paixões.
As mudanças psicológicas ocorridas no processo de civilização colocam o medo, portanto, como uma ameaça física externa, assumindo a forma do medo de forças exteriores.
Diferentemente de medos antigos, temos a experiência de medo do indivíduo hoje, uma experiência individualizada, singularizada.
Se a sociedade antiga era, em muitos aspectos, mais rígida, a atual é por vezes desnorteante na sua fragmentação e na aceleração do ritmo das mudanças.
Se hoje existe maior tolerância quanto aos aspectos sexuais em sentido estrito, a violência urbana, o consumo de drogas e outras pragas sociais se alastraram em um grau jamais previsto.
O afrouxamento da autoridade patriarcal e de seus derivados nas diversas esferas da vida não deu lugar à fraterna união dos iguais, porém a um universo de desorientação e de insegurança cujos sinais estão por toda parte.
O mal-estar atinge, como um todo, populações urbanas principalmente, sem levar em conta a classe e a posição social, expressando-se através de fenômenos como stress, depressão, episódios psicossomáticos, uso de drogas e mesmo delinqüência.
Como resposta a esse desamparo vemos exemplos de contínuos processos de defesa pessoal e de alarmes, o que indica que as pessoas se encontram em um sistema de vigilância contínua onde, cada vez mais, o indivíduo tenta se proteger assumindo comportamentos defensivos. Outra possível busca de segurança hoje em dia consiste nos mecanismos de medicalização, com o desenvolvimento da indústria farmacológica, entre outros. Encontramo-nos no limiar de uma nova era em ciências do cérebro e do comportamento. Através dessas pesquisas aprenderemos ainda mais sobre distúrbios mentais como depressão, distúrbio bipolar, esquizofrenia, transtorno do pânico e distúrbio obsessivo-compulsivo.
Em um mundo onde há falta de perspectivas futuras, onde não se tem modelos identificatórios, em que há a descrença na justiça, na lei, no que é transcendente o que importa é o presente.
O medo não tem mais relação com Deus. Há uma invasão de sentimentos de incerteza, fragilidade, insegurança, fragmentação. Não faz parte mais do trágico, mas do comum, criando-se inclusive estratégias para lidar com essa emoção, sendo uma delas o medicamento. O medo surge inscrito no corpo.
Conclusão
A Idade Média se caracteriza em um período de conflitos e mudanças sociais e religiosas. Podemos dizer então, que MEDO e POBREZA, neste período, estão intimamente ligados à figura de Deus.
Através do desprendimento dos bens materiais, a POBREZA, no início desta época, era um meio de se chegar a Deus. Com o passa do tempo, esta mesma POBREZA, foi vista como condição para um duplo castigo: no presente, pela própria privação que passavam e no futuro pela impossibilidade de se chegar ao paraíso.
O MEDO então se junta ao conceito de POBREZA, ao ser visto como algo externo ao indivíduo e proveniente da justiça divina.
Já, nos tempos sombrios em que vivemos de violência, globalização e constantes mudanças, o MEDO e a POBREZA unem-se numa perspectiva individualizada do ser humano. Neste caso não existe uma consciência coletiva, e sua relação se explica na prática, quando os problemas sociais provenientes da condição de POBREZA resultam nas expressões de MEDO.
Num mundo sem grandes horizontes, sem projetos históricos, sem ambições coletivas, na ausência de um valor mais alto, a força e o sentido da vida ficam na iminência da vida de cada um.
FONTES: O medo contemporâneo: abordando suas diferentes dimensões - Por Luciana Oliveira dos Santos – em
http://www.overmundo.com.br/banco/o-medo-da-morte-na-idade-media-uma-visao-coletiva-do-ocidente - em 27/02/2010.
A POBREZA COMO UM FENÔMENO MULTIDIMENSIONAL - Por: Antônio Pedro Albernaz Crespo e Elaine Gurovitz -
http://www16.fgv.br/rae/artigos/1178.pdf - em 27/02/2010.
OS POBRES NA IDADE MÉDIA: DE MINORIA FUNCIONAL A EXCLUÍDOS DO PARAÍSO – do Prof. Dr. Cyro de Barros Rezende Filho – em
http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/humanas/article/viewFile/567/400 - em 27/02/2010.